Entrada #7: Coleções - Um hobby old school?
Em 2024, tudo é digitalizado e compartimentado em nuvens. As casas são cada vez menores, com seus moradores que adotam uma vida minimalista. Nesse contexto, há espaço para as coleções?
Na era do minimalismo, os itens da casa já não dizem respeito ao que é belo, não há mais aquele étagère1 herdado pela avó. A confecção dos móveis deve ser estratégica a ponto de um único móvel ter mil e uma funções. Sabe aquela mesinha de centro da sala, que já servia para enfeite e apoio informal dos pés cansados? Agora, além de ultra compacta, ela precisa se desdobrar para virar uma mesa de jantar, com bancos dobráveis encaixados por dentro, para acomodar 6 pessoas. Uma coisa fenomenal de se olhar! Mas só, querer essas condições? Estou fora!
Há também o padrão nórdico escandinavo da decor (ou minimalismo atingiu o vocabulário!2). Não há paredes coloridas, enfeites pelo simples enfeitar. As bancadas são bege, sem nada. Acabou aqui a explicação porque o fim do parágrafo consegue resumir o conceito.
As confecções de roupas organizam suas coleções por cápsulas, os personal organizers falam em edição dos itens, a Marie Kondo orienta a digitalização dos desenhos feitos por crianças (onde já se viu guardar os primeiros desenhos que seu filho vez?!). Socorro!
Na rotulagem e compartimentalização de tudo, seja de direita ou de esquerda, ou gosta de gatos ou de cachorro, as pessoas se dividem e querem pertencer aos grupos. Você pode ser gluten free, vegano, fazer cross fit ou pilates. Mas alguém fala que é colecionador?
Onde estão e onde moram? Como vivem?
Tenho uma coleção de pins que começou sem querer, despretensiosamente e, mais curioso, não por mim.
Não sei bem ao certo o que levou meus pais a guardarem o broche de um cartão de aniversário que ganhei ao fazer 3 anos, ou os pins dados pelo McDonalds lá em 1900 e bolinha.
Mas fato é que, a minha coleção cresceu naturalmente. Cada pin que comprei ou ganhei, está lá, ou em uso, ou guardado na minha lata redonda, no meu armário (esse, normal, sem coleção em cápsulas).
Penso em meus pins, colecionados no começou da infância até hoje. São mais de 30 anos ganhando pins e procurando, por todos os lugares, se encontro um novo. Mas não coleciono a quantidade, coleciono os momentos, lugares e pessoas que esses pins me agregam.
Talvez, por ser crítica demais, penso em coleção como algo ativo, intencional, e com propósito. E, talvez, por ser, muitas vezes, literal, penso logo na primeira definição do dicionário: “Conjunto de coisas da mesma natureza, reunidas para fins de estudo, comparação ou exposição, ou apenas pelo desejo e prazer de colecioná-las”3.
Meu lado saudosista já pensa nos tempos em que mantive uma coleção de papéis de cartas e a troca deles com minhas amigas, ou de quando ganhei da minha mãe sua coleção de adesivos, e das vezes que passava a tarde na sala de meu pai, com sua coleção de placas de carro e soldadinhos de chumbo.
Mas, afora todo esse romance das coleções, o dicionário também traz a seguinte definição sintética e prática: Coletânea, compilação, seleção. E reflito: não seríamos todos nós seres “colecionantes4”? Com nossas bagagens, emoções vividas e por viver, tempos passados, relacionamentos feitos e desfeitos, cada um traz em si diversas coleções.
A coleção do subjetivo é enorme, vasta, imensurável. Colecionamos amores, viagens, memórias, perdas, decepções e alegrias. É o colecionador transcendental.
Volto para as coleções materiais e encontro um meio termo, a coleção das dedicatórias dos livros. Há anos penso nelas e em como elas habitam minha estante.
Hei de organizá-las, catalogando as mais belas, afinal, sou uma colecionadora old school.
Essa palavra me lembra um evento hilário na casa da minha avó. Quem sabe vira um conto, um dia.
Brincadeira. Eu sei que é o inglês tomando conta. Mas o trocadilho ficou legal.
https://michaelis.uol.com.br/busca?r=0&f=0&t=0&palavra=cole%C3%A7%C3%A3o
Por algum motivo, não achei que a ideia que me propunha a dizer combinava a palavra “colecionadores”. Humildemente, dei uma de Guimarães Rosa.
Sempre que leio a palavra étagère a lembrança vem a minha mente rs obrigada por trazer essa memória