Entrada #6: A Despedida da Loja
Em meio a caixas, sacos de tecidos, fitas, papéis e cartões, attraversiamo...
Eu nasci em 18 de março de 1990 e a loja Maria Eugenia Presentes e Pacotes já existia.
Lá estava ela, na Avenida Presidente Vargas, nº 975, telefone 36233925, de segunda a sábado. Cresceu conforme a avenida crescia, aquela que parecia acabar ali, quando a loja abriu em 1986.
Só que A Loja nasceu bem antes, num ano no dia 6 de setembro. Ela nasceu assim que minha mãe veio ao mundo porque A Loja e a Maria Eugenia são uma coisa só, indissociáveis.
Assim como minha mãe, tudo na loja é belo. A meiguice e delicadeza da dona carimbam a curadoria harmônica e inigualável dos presentes; suas as caixas, firmes e implacáveis, são tais como quem as escolheu. Tem, também, os famosos penduricalhos, representando os detalhes, assim como os inúmeros modelos de fitas e cores de papel de seda que são exemplos do capricho desse belo ato que é o embalar.
Em 86 os balcões eram de madeira, e, seus visores, em vidro, estilo um boticário, eram repletos de lapiseiras, papéis de carta e mimos fofos. A Loja abriria para permanecer aberta por 38 anos.
Subia, pela avenida, minha mãe, em sua Mobylette, para encantar seus primeiros clientes, a 1ª geração. A simpatia e educação que eles encontravam naquela moça atrás do balcão, juntamente com a excelência dos presentes e embrulhos que levavam embora, foi o motivo pelo qual, hoje, a 3ª geração daqueles primeiros clientes -lá de 86- ainda rememora suas idas à Loja enquanto crianças.
E comigo é assim também.
Em meu universo particular, A Loja foi uma casa, esse espaço que me acolheu logo após minha mãe sair da maternidade. Em seu chão cor rosé, dei meus primeiros passos e aquelas paredes, que a cada temporada recebia uma nova cor, escutaram minhas primeiras falas.
Os mais íntimos e antigos da casa conheceram o quintal dos fundos, com as flores da minha mãe, a jabuticabeira e bananeira, e tantas outras plantinhas tão bem cuidadas. Um espaço em que brinquei, estudei, e que até por vezes reclamava em ter que ficar. Tinha bolo de aniversário, café da tarde e encontro dos familiares que davam aquela “passadinha” na Loja.
Depois, A Loja me acompanhou nos meus tantos primeiros dias de aula, trocas de escolas, conheceu minhas amigas, passou pelo drama da adolescência, me viu crescer.
Ela estava lá, A Loja, sempre que eu retornava de uma das 5 cidades em que morei. Ela conheceu meu marido ainda como meu namorado, embrulhou o presente do meu noivado, o bem-casado do meu casamento. Serviu como sede da organização do meu casamento e viu meus filhos –os netinhos- nasceram.
Continuava firme e inabalável nas minhas trocas de emprego, escutou meus lamentos e decepções rotineiras. Ficou triste nas despedidas dos meus avós que faleceram, torceu pela recuperação em doenças e foi amiga nos desafios inevitáveis que acometem uma vida.
Minha mãe embrulhou as lembrancinhas de Dia dos Professores, os presentes das festas de 15 anos, as lembrancinhas da minha despedida de solteira, os presentes de nascimento dos filhos das minhas amigas mais queridas.
A Maria Eugenia (versões loja e pessoa) sempre cresceu, se manteve atual, acompanhou e antecipou tendências. Com o passar do tempo não tinha mais aquele fluxo de cheques que eu levava para depositar no banco; os balcões e prateleiras, antes de madeira, foram para versões mais modernas; o quintal cedeu espaço para a construção de um depósito, A Loja entrou nas redes sociais.
Como meu pai gosta de lembrar, a loja passou por 5 moedas diferentes, vários planos econômicos, uma pandemia.
Mas o fim de um ciclo se aproxima e A Loja se prepara para fechar suas portas. Não sei o que será dos meus Natais e com os presentes embaixo da árvore, ou em qual estado o Coelho da Páscoa entregará os ovos dos meus filhos. Entretanto, desde que nasci estive lá e agora também estarei, mas só com a parte da Maria Eugenia, sem A Loja.
Mudaremos, juntas, nosso vocabulário, que não mais terá frases como “nos encontramos na Loja”, “vou só passar na Loja”, ou simplesmente “estou na Loja”.
Me despeço de uma casa da minha infância. Um novo ciclo se inicia e estou feliz de poder fazê-lo com você, mãe, feliz, saudável e, agora, vovó.
O LAÇO E O ABRAÇO
”Meu Deus! Como é engraçado!
Eu nunca tinha reparado como é curioso um laço... uma fita dando voltas.
Enrosca-se, mas não se embola, vira, revira, circula e pronto: está dado o
laço. É assim que é o abraço: coração com coração, tudo isso cercado de
braço. É assim que é o laço: um abraço no presente, no cabelo, no vestido,
em qualquer coisa onde o faço.
E quando puxo uma ponta, o que é que acontece? Vai escorregando...
devagarzinho, desmancha, desfaz o abraço.
Solta o presente, o cabelo, fica solto no vestido.
E, na fita, que curioso, não faltou nem um pedaço.
Ah! Então, é assim o amor, a amizade.
Tudo que é sentimento. Como um pedaço de fita.
Enrosca, segura um pouquinho, mas pode se desfazer a qualquer hora,
deixando livre as duas bandas do laço. Por isso é que se diz: laço
afetivo, laço de amizade.
E quando alguém briga, então se diz: romperam-se os laços.
E saem as duas partes, igual meus pedaços de fita, sem perder nenhum
pedaço.
Então o amor e a amizade são isso...
Não prendem, não escravizam, não apertam, não sufocam.
Porque quando vira nó, já deixou de ser um laço!”
Texto de autoria da Maria Beatriz Marinho dos Anjos1, que conheci pela minha mãe, uma vez imprimiu várias cópias e deu a seus clientes.
Do livro O Laço e o Abraço, Maria Beatriz Marinho dos Anjos, Editora Literissima.
Lindo, Didá ❤️
Adorei...