Entrada #3: Divã, um título emprestado.
Uma reflexão da dualidade que pode nos impedir, mas que não deveria.
Para escrever, basta escrever, certo?
Errado, Lopes, errado. É preciso conteúdo.
Quando decidi que iria escrever, decidi que também precisava estudar. Fui à livraria e comprei dois livros da Martha Medeiros1. Creio que meu subconsciente não me deixava comprar nada dela por já saber que seria uma ótima influência e empurrão nessa direção da escrita.
Ah Lopes2, e como meu subconsciente me sabotou durante todos esses anos...
Sabotagem, autossabotagem, são termos muito da moda. Há também a famosa síndrome do impostor. Esquivar-me-ei desses termos pois não me vejo como vítima dessa história.
É preciso ligar os pontos3, Lopes. É preciso pegar toda essa bagagem que construí ao longo dos anos, todas as experiências para poder estar aqui escrevendo hoje. Não iremos nesse caminho de não valorizar essa bagagem.
Então, voltemos à essa sessão de divã, onde pergunto: estamos todos abarcados pela dualidade dos julgamentos? De um lado, julgados numa ordem moral, de valores e, de outro, de eficiência e de resultados? É um inerente ao outro ou são colidentes?
Veja, Lopes, isso me fez questionar se quando agimos, ou melhor, deixamos de agir, é porque somos impelidos por ao menos um desses dois motivos.
A psicologia deve explicar. Alguém, tipo Jung ou Freud, certamente deve falar que somos, hoje, fruto de influências da nossa criação e ambiente. E concordo! Mais que natural termos essa bagagem que nos moldou e nos fez quem somos hoje.
Mas parte do amadurecimento é saber olhar e valorizar essa bagagem e perceber o que extraímos dela e devemos continuar carregando e o que devemos deixar para o passado pois o seu propósito já foi servido. É extrair tudo do melhor do que recebemos. É pegar esses pontos e continuar ligando com o que estão por vir. Não há rupturas na vida, apenas continuação.
Do outro lado, temos essa constante fixação moderna para estarmos produzindo e sendo eficientes 24h por dia, todos os dias. E não basta estar fazendo alguma coisa, é preciso gerar valor, trazer resultados, é o loop da melhoria contínua que extrapolou as linhas de produção e está agora em nós, em nosso íntimo. Seria essa a sociedade do cansaço que tanto fala Byung-Chul Han?
Pois bem, onde ficaram os hobbies? Os prazeres de atividades de lazer? Se somos medidos pelo que geramos e produzimos, qual o propósito em me aventurar nessa coluna?
Só sei, Lopes, que enquanto falamos, essas questões se resolveram. Portanto, sessão encerrada. Dilema resolvido. Até semana que vem!
Divã, seu livro mais famoso, do qual peguei o título emprestado e Simples Assim.
Lopes é o nome do personagem no livro Divã, da Martha Medeiros. Ele é o terapeuta da personagem Medeiros.
👏👏