O extraordinário do ordinário

Entrada #26. O texto, que é extraordinário pois publicado numa terça, é para uma newsletter ordinária, que sai, geralmente, às quintas.

Meu aniversário.

O dia de aniversário perfeito existe, sim. Ele começa, por vezes, dias antes. Esse ano, em específico, começou com uma antecedência de 6 dias.

Encontrei com amigas queridas num jantar a meu gosto, com comida, bebida, e conversas boas, de qualidade. Foi casual, leve, fácil. Falamos da vida, dividimos problemas, multiplicamos as risadas, atualizamos os assuntos e as fofocas. Ganhei vários presentes. Somos pessoas comuns, com uma amizade comum, e com conversas comuns. Pode se dizer que somos ordinárias, mas fazemos nossos encontros serem extraordinários.

Dias depois, passei um final de semana a sós com meu marido numa curta viagem. Nos dois, um casal comum, numa cidade comum, em dias comuns, fazendo o que gostamos de fazer, as mesmas coisas comuns de 15 anos atrás. Só que de ordinário, nada tem. Nossos dias são exclusivos e nossos sentimentos são extraordinários. Somos os únicos com a nossa história, com nosso compromisso, e com nosso amor.

E outros dias depois – hoje - meu aniversário. O mesmo que acontece há 35 anos. Tão ordinário isso de fazer aniversário! Todos nós fazemos. Aquele que vive, por bem ou por mal, envelhece 1 ano à medida que os anos se passam. E todos nós acordamos, nos vestimos e seguimos com o célebre dia.

E esse meu, em específico, começou com tamanha “ordinariedade” que vejam só: uma noite de sono boa, tranquila, em que me levanto em paz, numa terça-feira, feliz com a data. Tomo banho, me visto e me arrumo no silêncio da manhã, enquanto a casa dorme. É a paz ordinária que tanto almejo em minha vida.

E quando a correria e o caos se instalam – igualmente desejados -, escuto o barulho das portas, os pezinhos no corredor dos quartos, os sussurros, ganho o beijo de bom dia, me pedem colo, me perguntam “mamãe, é hoje seu aniversário?!”, é quando meu extraordinário acontece.

Uma criança sai correndo, segurando o bolo pela embalagem frágil, que sacode no limite de sua resistência, uma mãozinha procura a minha enquanto ouço “vem, mamãe” no som de quem está aprendendo agora pequenas palavras, um pai que ri da surpresa indo por água abaixo pois instantaneamente revelada.

Ganho flores e pequenos balões de coração, e, ao redor da mesa da cozinha, nos reunimos, nós quatro, para cantar parabéns, partir o bolo e registrar algumas fotos.

Tudo tão ordinário, e os sons, os risos, os beijos, os abraços, o carinho, o estar juntos são tão extraordinários que só me resta desejar que meus dias sejam os mais ordinários possíveis.

E para quem pensa que o dia se encerrou assim, afinal, a alegria estava sobrando para o restante do dia, se enganou.

O dia transcorreu e aguardei a “ordinariedade” que a noite traria: um jantar comum, na minha casa, com a maravilhosa companhia dos meus pais e da minha irmã. Extraordinariamente únicos e essenciais.

A vida que quero para mim e os anos vindouros que me desejo partem da ideia de que precisamos viver a soma dos momentos da vida em sua integralidade, honrando e valorizando o cotidiano pelo que ele é: a vida acontecendo.

É por isso que desejo a você, no seu aniversário, que saiba aproveitar a semana sendo de 7 dias, o dia sendo de 24 horas e a sua história sendo o conjunto todo de memórias e não de fragmentos selecionados.

Que tenhamos todos muitos dias ordinários.