Um agradecimento especial a Coordenadora do Caos e sua última newsletter e o podcast Unlocking Us, no episódio Esther Perel on New AI – Artificil Intimacy, que me inspiraram para a newsletter dessa semana
Como advogada, sempre associei mediação a algo positivo.
Lembro da faculdade e em como estava em alta a discussão para tratamos das lides (traduzindo do juridiquês, um conflito de interesses entre duas ou mais partes que é levado à apreciação do Poder Judiciário, buscando uma decisão sobre a questão) uma etapa antes, ou seja, vamos conciliar as partes e entrar em acordo.
É um cenário em que se tem que todos saem ganhando: as partes, por terem resolvido com mais celeridade e menos dispêndios financeiros, e o judiciário e, por consequência, o povo, por diminuir as demandas e agilizar os demais casos.
Veja um divórcio sem filhos menores de idade, como um exemplo. Os cônjuges, com a ajuda de um mediador, discutem quem fica com a aquário dos peixes e essa discussão evitaria a abertura de um processo judicial, pagamento das custas judiciais, a movimentação do cartório, o tempo do juiz, o gasto com advogados etc.
Há outros tipos de mediação que trazem harmonia para as relações humanas. É o caso do corretor de imóveis que ajuda você a encontrar a casa dos sonhos; o despachante que resolve aqueles problemas burocráticos que ninguém da casa quer ir atrás; aquela consultoria cara, mas que finalmente consegue aprovar a tal da cidadania europeia.
Os anos foram passando e a mediação continua sendo uma aposta para vários profissionais. Soa bonito, também. Um elevado grau de civilidade sendo praticado, as quais as pessoas conseguem de fato dialogar e entrar em acordos e que parcerias são estabelecidas com um propósito bacana.
Mas será que, além de poupar o estagiário daquela experiência de audiência do aquário bem sem graça (nota: Eu era a estagiária e essa audiência ocorreu de verdade) ela é benéfica em TODOS os aspectos da nossa vida?
Será mesmo que precisamos da mediação de aplicativos para conhecer pessoas e nos apaixonarmos? E para mantemos nossas relações com familiares e amigos, precisamos mesmo de tantas redes sociais e aplicativos de conversa?
Compras online de todas as espécies, atendentes robôs para marcar consultas médicas, autoatendimentos e respostas automáticas em todos os serviços...
E o contato do olho no olho, da conversa direta, do improviso e do momento espontâneo, como ficam?
Não nos arriscamos nas conversas fiadas de elevador, achamos bobagem falar com o atendente do caixa do supermercado, nos esquivamos de conversas cotidianas com nossos vizinhos, temos medo de ficar numa fila.
Estamos nos poupando de interações sociais por considerarmos tempo perdido, sendo que esse suposto ganho de tempo é em benefício de quê, exatamente? De ver a última atualização de foto postada? Da ansiedade em ler uma mensagem que não faz diferença se lida depois de vinte minutos?
Seja qual for o motivo, estamos mantendo relações superficiais, que são cheias de conexão, mas sem de fato nos relacionarmos. Criamos a falsa sensação de intimidade pois crescemos em números: quantidade de interações, quantidade de seguidores, quantidade de mensagens e, no final do dia, estamos sempre rodeados de gente, mas sem de fato estamos em companhia de alguém.
A promessa da hiper conexão é tentadora, é promessa de simplicidade e valorização instantânea do ego. A hiper conexão nos alimenta com informações e com a interatividade. E, justamente por ser simples, como a própria proposta ofereceu, ela é fácil, pois superficial, e ela é prazerosa, pois sem grandes obstáculos.
Estamos crescendo em Intimidade Artificial, mas vai aqui um lembrete: ao contrário das conexões, os relacionamentos não são assim. Eles são custosos, complicados, tem dores e dificuldades, tem camadas, tem vínculo e tem profundidade, e, em contrapartida, os relacionamentos criam vínculos são fortes, nos afastam da solidão, são saudáveis, e estão ali ao nosso lado verdadeiramente, num espaço onde há escuta e preocupação.
A newsletter de hoje é um convite para toda essa reflexão da Intimidade Artificial.
Adorei a newsletter da Rafa, ficou ressoando aqui! Agora quero ouvir o podcast tb!