Acho muito difícil escrever sobre a maternidade. Embora a mim ela tenha vindo fácil - não havia problemas de saúde, eram gestações desejadas, com amor de sobra - a maternidade é complexa, cheia de detalhes, e mutante a cada segundo.
As emoções são tantas e as experiências são tão multifacetadas que tenho a impressão de que quando estou assimilando um pouco e poderia transformar esse pouco em algumas palavras, tudo se altera, e a fase já é diferente e, aquela mãe que existia ontem, já não existe mais.
Só que isso não é tudo.
Há também uma faceta obscura, não revelada. Será que acomete só a mim ou seria também um sintoma de todas nós, mas que mantemos escondido, sem revelar?
Falo do egoísmo.
Me descobri mãe, quando em meu ventre já estava meu bebezinho. Ali já notei algo estranho: a novidade era tão gostosa que queria compartilhar aos poucos, paulatinamente, como se, ao dividir essa alegria, estava tirando algo de mim e não poderia dar aos outros.
Aquele egoísmo foi crescendo conforme minha barriga crescia. Quanto mais eu conhecia aquele bebê que crescia em mim, mais eu me afeiçoava a ele e menos queria dividir.
A alegria da maternidade fica tão engraçada e tão paradoxal, queremos contar, explodir com os outros de felicidade, mas, ao mesmo tempo, queremos guardar só para nós certas memórias.
Como compartilhar os sorrisos dos meus filhos ao me verem na saída da escola, descrever seus gestos e falas nas brincadeiras, relatar as conquistas e apresentações de escola?
Como mostrar aos outros aquele olhar único que só você recebe, a florzinha da rua que ganhou de presente, o beijo estalado nas bochechas recebido num despertar da madrugada?
É o egoísmo materno.
É um egoísmo desmedido, desenfreado, arrasador, que atravessa quaisquer regras sociais e ocupa um espaço que antes nem sabia que existia.
Ele fica ali, observando, calculando os movimentos, tentando se manifestar em todos e a quaisquer momentos.
Talvez, quando esses momentos são divididos, eles se tornam reais e fugazes. Aquele momento passa a ser medido no tempo e, portanto, sabemos que ele irá acabar. É como se, ao não dividir, uma ilusão é criada de que aqueles instantes serão eternos e eu serei a única dona deles por toda a eternidade e eles nunca teriam fim.