Muito se fala sobre como criar filhos e crianças para que se tornem adultos leitores.
Eu, particularmente, recebo muito essa pergunta. Não sou um guru da formação de pequenos leitores, mas sou o combo leitora-mãe-interessada. Será que ajuda para dar uns pitacos?
Portanto, eu não sei a resposta, muito menos uma fórmula que faça com que bebês cresçam apaixonados pela literatura. Uma receita pronta pode parecer atraente, mas tem o poder de roubar a experiência e a beleza das tentativas e acertos que nós, adultos, podemos proporcionar nesse início de trajetória literária dos pequenos.
Falo sobre a delícia de poder provar os livros, descobrir as histórias que cativam, as que não apetecem logo de cara, as que precisam de um momento mais propício para serem apreciadas, as mais curtas que cumprem sua função, as mais longas para quando há mais tempo... E assim um jogo se forma, e é justamente esse jogo que eu tanto gosto de jogar com meus filhos: brincar de ler.
Seria bom se eles crescessem adultos leitores? Seria fantástico! Como mãe e atenta às pegadinhas que a maternidade pode trazer, tento controlar essa expectativa e procuro focar no agora, ou seja, nos “leitores mirins” que hoje eles são.
Isso inclui, também, esse poder maravilhoso que os pais possuem: influenciar. A receita que podemos testar é a seguinte: peguemos a influência e misturamos com a companhia das crianças, colocamos uma pitada de entusiasmo e aguardamos o acontecimento anual que algumas cidades oferecem, as feiras do livro.
Que as feiras do livro são ótimas, podemos concordar, elas tiram as pessoas do cotidiano para uma imersão em formato de festival, onde tudo é voltado para os livros, os autores e suas obras, num movimento gostoso e empolgante. As chances de sua mão coçar para folhear livros é certeira.
Só que elas têm um impacto maior ainda para as crianças.
Final de semana passado estive em Poços de Caldas para a Flipoços. Foi uma decisão de última hora e fiz uma limonada com os limões que tinha: algumas horas na feira. Consegui assistir a uma mesa de uma autora que já acompanhava nas redes sociais, descobri outros dois autores que chamaram minha atenção, vi a seção dedicada aos autores locais (de uma delicadeza e cuidado com a literatura local que só!), meus filhos andaram pelos estandes e ouviram uma contação de história.
O saldo foi bastante positivo: experiências, alguns livros, e o compromisso de que precisarei voltar ano que vem e com mais tempo e organização.
Mas o que me chamou a atenção, num nível mais profundo, foi com a quantidade de livros infantis expostos e a extensa programação da Flipocinhos. O nome já indica: cuidado e atenção com nossos mini leitores, eles são um público de destaque.
Uma lona dando um aspecto circense, com atividades diversas e muita contação de história faz aquilo que é necessário para atrair os pequenos: o ler divertido ou o brincar de ler, como mencionei anteriormente. O ambiente deve convidar, mostrar que ouvir/ler histórias deve ser animado, interessante, colorido. E isso é refletido na Feira como um todo.
Ao ver que os adultos também estão lá, envolvidos na programação, nos livros expostos, as crianças serão atraídas também. A feira, quando feita pensando nessa amplitude de visitantes, demonstra justamente o alcance da literatura; há livro para todos!
Cada feira conta sua história, e me recordei de uma minha, quando criança. Era a Feira no Livro de Ribeirão Preto. Ainda não havia conquistado o nível internacional, mas me recordo de já ser bastante robusta nessa época.
Eu tinha lá meus 10 anos, talvez, e morava relativamente perto de onde era a feira. Peguei a programação, meu dinheirinho e lá fui eu, a pé, dar uma olhadinha.
Assim como preguei a importância da influência, eu havia sido influenciada. Já conhecia o esquema das feiras do livro, meus pais me levavam todos os anos, de tal forma que já estava familiarizada com aquele ambiente.
Andei pelos estandes, procurei a esmo livros que me interessavam, curto aquele momento comigo até que vi uma coleção dos livros do Sherlock Holmes.
Hoje não me recordo do que sabia do Sherlock Holmes naquela época, se já havia lido algo, se alguém havia indicado para mim, só tenho a lembrança de como fiquei feliz com aqueles livros. Eram simples, papel reciclado, edição barata. Mas foram livros tão ricos, que guardo com carinho e orgulho até hoje.
Não fosse aquela feira do livro, será que eu teria algum dia lido Sherlock Holmes e gostado tanto? Creio que teria lido, sim, mas desconfio que não teria tido o impacto que teve àquela época, de quando eu era criança e estava moldando meu gosto pelos livros.
Pronto, preciso levar Luca a uma feira do livro!!! Fiquei inspirada pra isso com seu texto! É sobre os livros do Sherlock Holmes, preciso terminar de ler o meu! Rsrs
Textos sempre mto bons!
Ah! Sempre muito reflexivos os seus textos. Não tenho filhos mas fui influenciada pela minha mãe para amar os livros. Aos 77, ela tem um Kindle e devora livros, vira a noite, se está empolgada. Na minha cidade, Joinville/SC, temos feira do livro anual, com nomes fortes da literatura nacional e mesas redondas. Uma delícia!