Enquanto lavam o meu cabelo no lavatório do salão, penso a respeito dos clubes do livro e de leitura. Já participei de alguns. Todos ótimos, e cada um na sua versão.
O primeiro clube do qual participei foi durante a pandemia. Lá estávamos todos nós, confinados e sedentos por fazer alguma coisa nova, que nos distraísse daquele momento único que vivíamos. Como minhas habilidades culinárias são próximas do negativo, fugi do pão de fermentação natural e entrei para um clube do livro.
Esse clube já existia há certo tempo e os seus membros já eram todos colegas entre si. Era um clube presencial e os encontros por vezes aconteciam na casa de algum dos membros; existia aquela proximidade e calor que só a convivência proporciona. Mas, como exigiu o momento, o clube precisou se adaptar para se manter e, portanto, migraram para o Google Meet. Foi quando eu entrei.
Descobri o clube por indicação de uma colega da faculdade, mas que ela mesmo já não participava mais. Entrei na reunião: pessoas desconhecidas, problemas de conexão, diálogos “estão me ouvindo?”, conversas paralelas, uma bagunça! E na bagunça identifiquei dois rostos conhecidos, amigos de meus pais. Que bom! Achei um jeito de me infiltrar.
O clube era excelente. Eu ansiava por cada encontro, lia os livros com tamanha empolgação que anotava nas margens, fazia colinha dos tópicos que podiam ser discutidos, me preparava!
Cada encontro expandia minha mente. Li autores de que até então nunca havia ouvido falar, li clássicos que me desafiaram, lutei contra preconceitos, li livros que jamais me atrairiam. Discuti, concordei, mudei de ideia, não cedi à algumas, mas ouvia sempre.
Nesse clube li pela primeira vez Mia Couto, me desafiei com Gabriel Garcia Marques, descobri Thomas Mann.
Pandemia passou e o clube voltou a ser presencial. Uma livraria independente e local nos acolheu e trouxe novos membros. O clube recebeu outro nome, ganhou uma sede e foi repaginado. A dinâmica se profissionalizou e agora, além de discussões mais organizadas, tinha mediadoras profissionais da área. Era um debate rico.
Nesse clube, finalmente li Joan Didion novamente, fiquei atualizada com Carla Madeira, Cabeça de Santo entrou para a lista dos favoritos.
Mas a rotina muda e precisei me ausentar desse clube. O puerpério e dois bebês eram minha prioridade e a logística de ir até os encontros, que aconteciam à noite, deixou inviável.
Mudei de clube. Entrei para um que propunha leitura de clássicos num viés mais moderno, para extrair ferramentas para a vida contemporânea. A idealizadora do clube tinha uma oratória invejável e uma dicção perfeita. Me convenceu.
Me reencontrei com Italo Calvino e confirmei meu desgosto por Franz Kafka.
Acontece que lá pelo terceiro encontro não me encontrei no clube. Embora ao vivo, os encontros serviam para um monólogo sem espaço para discussão e exposição de ideias. Sai.
De lá para cá não participei mais de clubes até que mês passado fui convidada por uma amiga querida, também amante de leituras e livros, a participar de um clube de livro de leituras clássicas (outro!). Ia recusar, esse formato impessoal, online e de encontros gravados, não era minha praia. Queria ver gente, cada um com seu livro físico na mão, ver as anotações dos outros, tomar um café no encontro.
Em prol da amizade, repensei o convite. O primeiro livro escolhido para o clube: Cinco Minutos, de José Alencar.
Ganhei esse livro num box de livros clássicos presenteado pelo meu pai. Eu devia ter uns 14 anos. Entrei no mundo dos clássicos ali, lia todos, mas em especial, Cinco Minutos ganhou meu coração. Se lembro da história? Pouco, mas me recordo do sentimento bom ao lê-la.
Entrei para o clube. O livro me chamava para que eu o lesse novamente! Participar de clubes de leitura é saudável. Eles nos desafiam, nos fazem pensar e nos recordam do que é bom. E quando você tem sorte, ainda fortalecem amizades.
Adorei! Foi muito bom reler a dedicatória. Bons tempos que haviam livreiros ambulantes. Passavam nas casas e nos comércios espalhando o encanto da leitura.
Eu amei esse texto! Me deu mais vontade de ler e participar de clubes de leitura! Haha