Entrada #22: Entre uma vida tech e uma analógica
Um universo binário, algumas escolhas e a ausência de outras.

Me sinto pressionada. Não hoje, mas ontem e amanhã, também. Todo dia, toda hora precisando fazer escolhas dentro desse universo que, aparentemente, só sabe ser binário.
Aparentemente, tudo deve ser enquadrado numa categoria, catalogado, em que somos definidos por aquelas caixinhas e rótulos. São escolhas que, uma vez feitas, parecem irreversíveis, imutáveis; lados opostos que são intransponíveis.
Vivemos em tempos de dualidade, e nele há de tudo: parentalidade permissiva e autoritária, gluten free ou não, crossfit ou beach tenis, política, então, nem se fala. Agora a nova onda: digital ou analógico.
Um susto! Nem mesmo sabia que era uma opção escolher entre uma vida analógica e uma digital. A não ser que você seja Amish - comunidade que acho fascinante-, a escolha racional e determinada da vida analógica é um tanto curiosa vide os tempos de IA em que foguetes dão ré.
Os adeptos desse estilo de vida escutam música por discos, leem livros físicos, usam mapas impressos, escrevem no papel e caneta, usam relógio de pulso de ponteiro e, claro, não usam redes sociais. Esses são apenas alguns exemplos.
E, mais uma vez, fiquei dividida: sou 100% Spotify e 0% discos, 80% livros físicos e 20% Kindle, 100% GPS e 0% mapa impresso, 50% papel e caneta e 50% Notas do celular, 100% relógio de pulso de ponteiro, 75% de cautela no uso das redes sociais e 25% scrolling infinito. Essa sou eu, 50% analógica e 50% digital, podendo livremente alterar essas métricas e sem aviso prévio.
Quando era adolescente, nossa, quanto radicalismo. Era muito convicta e certa do que achava. Sempre tomando partido em tudo, com pontos de vista e opinião para todas as questões da vida. Quanta besteira! A maturidade é mesmo um presente, traz junto a ponderação, e a sabedoria de que a vida é mais feliz quando sabemos decidir menos nas coisas menos importantes, e a refletir mais, antes de qualquer decisão, sobre aqueles pontos que de fato importam e farão diferença.
Ainda não me formei nessa Escola da Sabedoria da Maturidade, mas me matriculei nela. Seguirei feliz com meus primeiros aprendizados: permissiva no sorvete, autoritária nas palavrinhas mágicas, “o que é glúten mesmo?”, nem crossfit e nem beach tenis, e política somente para os chegados.
Continuarei feliz com meus relógios e sem a dor de cabeça para a decisão de qual caminho é o melhor na estrada, inclusive a da vida.
Adorei o texto. Me identifiquei, trabalho na área de tecnologia da informação e me considero bastante analógica no campo pessoal.