A semana passada passou. E em meio a tantos assuntos, nenhum. Vários passaram, mas nenhum quis ficar, estavam rebeldes, descontentes com as propostas que eu tinha para eles. Queriam mais!
Tive a audácia de começar a rascunhar alguns, um outro recebeu até título, a outra ideia rendeu objetivo e propósito e uma folha em branco. A cada caractere digitado, as palavras ficavam erradas, o sentido e o formato estavam desconexos... o que eu escrevia e o que eu lia, pareciam coisas diferentes. O corpo não estava em sintonia com a mente.
Deve ser o final do ano, pensei. Os encerramentos são avassaladores, nos sacodem enquanto equilibramos as pontas soltas. Mas, antes da travessia que nos leva do passado e presente para o futuro, aparece aquele momento fugaz, em que um portal é aberto para que possamos atravessar e mudar para o que será um novo início.
É preciso ficar atento para o surgimento desse portal. Ele é breve e muito importante. É ele que nos dá vida, esperança e nos impulsiona a seguir em frente. Ele separa os projetos fracassados dos vindouros, e coloca os planos em ação.
Aguardo, não tão pacientemente, meu portal. Enquanto meu corpo quer estar em 2025, descansado, a minha mente ainda está em 2024, exausta. Estamos separados. E, em meio a isso, as inspirações vão surgindo, estão ali, à espreita, mas há pouca energia para filtrar, programar, pesquisar, rascunhar.
Lembre-se, Leitor, que eu e me escrita ainda somos recentes. Com ela, ainda me relaciono no começo, colocando os pés na água e sentindo a profundidade, os perigos, até onde posso ir. A empolgação se encontra nesse tateamento pelo escuro da minha mente em busca de ideias e, pelo cotidiano, encontro meus assuntos.
Enquanto aguardo a aparição do meu portal, meu filho começou com um hábito novo e, curiosamente, agora em dezembro. Passou a acordar antes que eu saísse de casa para trabalhar e a fazer meu café.
Pacientemente, ele observa e aguarda até que eu fique pronta para sair, vestida, calçada, bolsa em mãos e, então, me comunica que irá fazer meu café.
Descalço, ele percorre o corredor dos quartos até nossa cozinha, abre o armário e pega minha xícara. Na sequência, empurra a cadeira, que serve de escada, para se sentar na bancada. Abre a caixa transparente, onde ficam as cápsulas de café e, com a memória excelente, pega a cor da cápsula que utilizei pela primeira vez ao ensiná-lo.
Um pouco relutante, cede à ajuda necessária para destravar e travar a máquina. Na sequência, aguarda a luz parar de piscar e aperta o botão, já com a autonomia que tanto necessita.
Ouço os seguintes dizeres “mamãe, vai para lá porque se você ficar aqui o café pode cair e te queimar”. Entendo a mensagem, fique tranquilo, filho, que sempre darei o espaço que você precisa para crescer.
Ele coloca o açúcar, eu trago a colher, e ele mexe. Bom trabalho, mamãe!
Portal, não tenho mais pressa no seu aparecimento. Me prometa mais desses cafés, que 2024 pode continuar.
Que lindo!
Maravilhoso!