Entrada #15: Laranjas descascadas e minha resolução de ano novo.

Uma homenagem ao meu avô L., que nunca economizou seu tempo em descascar laranja às suas netas.

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Recebi um convite deveras curioso: foi feito via uma newsletter que assino e estava convidando seus leitores a começarem, ainda em 2024, as resoluções de ano novo para 2025.

Segundo o texto, aqueles que começam em dezembro os planos para o ano de 2025 já começam na frente. Levantei a mão para protestar: começar antes da linha de partida deve ser algum tipo de infração das regras da boa vizinhança!

Além disso, começar na frente de quem e para que? Qual seria essa competição da qual não participo?

Constatei, em análise própria e numa amostragem duvidosa, tamanho “integrantes de uma mesa de almoço”, que o ato de descascar uma laranja após a refeição é um hábito “dos antigos”.

Não sei bem como começa o gosto por descascar uma laranja, tive o contato com essa arte na infância, vendo meus avós descascarem uma laranja cada, após as refeições. Já não eram jovens e, pela percepção que agora tenho, já faziam isso há tanto tempo que não mais notavam o ato em si, tão enraizado na rotina, no momento e nos dois, como casal.

Meu avô entendia de laranjas, sabia os tipos, a indicação para o melhor uso de cada uma de acordo com o que iria ser preparado na cozinha e, imagino, um ou dois fornecedores habituais e de confiança.

Assistia ao ritual sempre que estava em sua casa. Almoço à mesa, retira-se os pratos, e a laranja entra em cena. Um prato limpo, a laranja sempre impecavelmente lavada, bonita, lustrada. Com a faca pequena, cabo de madeira e extremamente afiada, a laranja era descascada, e sua casca ia caindo contínua e em círculos perfeitos. As netas aguardavam e cada uma recebia um par de tampinhas. Eram sempre tão doces, meticulosamente escolhidas.

Hoje, entendo a grandeza disso tudo, do tempo, empenho e dedicação que é preciso para fazer esse momento de descascar laranjas acontecer. E percebo que o gostar é um requisito entre tantos outros importantes para esse ritual. Planejamento, carinho, atenção e prioridades alinhadas são mais alguns.

Nas estradas, há plantações de laranja, nas padarias e restaurantes as laranjas são espremidas e os sucos são feitos na hora. É a nação que leu Meu Pé de Laranja Lima. Mas quantos aqui descascam laranjas?

Principalmente com relação ao tempo, ter o ritual de descascar laranjas em casa, no ritmo necessário para poder usufruir desse ato e ainda podendo compartilhar as laranjas é caro e custoso, e tão essencial. É significativo de qualidade de vida, de saúde, de harmonia familiar, e de pequenos prazeres.

Então, quando me perguntarem de resoluções de ano novo, a minha será apenas uma, mas grande: descascar mais laranjas.