Me sinto próxima da Marie Kondo. Pode parecer estranha essa afirmação, mas, de que outro modo poderia ser descrita uma relação com alguém que permeia a sua casa, mesmo que de modo distante e não pessoal?
Descobri a Marie Kondo pela minha mãe, que chegou um dia em casa e me contou a respeito dessa japonesa que tinha um jeito peculiar de arrumar as casas das pessoas. E, como boa mãe que é a minha, já sabia que eu logo me interessaria.
Consta no meu exemplar do livro A mágica da arrumação: A arte japonesa de colocar ordem na sua casa e na sua vida que eu o li em 2016, data que tenho para mim como o início de uma espécie de conversão. Comecei a aplicar os ensinamentos conforme eu avançava na leitura dos capítulos. Nessa época, eu ainda morava com os meus pais então não pude aplicar o método em sua integralidade, mas arquivei tudo na memória.
O método cresceu em mim e logo evoluiu para tornar-se um estilo de vida. E, assim, os anos passaram e, conforme eu fazia minhas mudanças de cidade e de casa, Marie Kondo me acompanhava.
Alguns ensinamentos tiveram que ser adaptados a minha rotina e estilo de morada, moradores novos chegaram, mas a essência estava sempre lá e, dependendo do momento, alguns ensinamentos se mostravam mais pertinentes que outros. Em suma, o método que escolhi para mim, lá em 2016, foi se mantendo ao longo dos anos.
Agora, me encontro numa fase de querer revisitar toda a organização das minhas coisas, do meu marido, dos meus filhos, e das coisas comuns que todos partilhamos que fazem do nosso apartamento um lar. Sinto necessidade de uma reciclagem, reler o livro, me (re)organizar e (re)implementar o método.
E aqui, Leitor, já fica um ponto de atenção a você, pois, caso decida ler esse livro e aplicá-lo, assumirá o risco de acordar determinado dia com disposição para tirar todas as toalhas e roupas de cama do roupeiro, e todas as canecas e copos dos armários da cozinha, padronizar os cabides e dobrar todas as suas roupas novamente.
E, se isso acontecer, não se assuste, ver item por item, pegar um de cada vez, senti-los nas mãos e reavaliar a conexão que tem com cada um deles é a magia do processo.
E, uma vez enraizado em você, questionar se estão no local certo e se esse local é o mais adequado em termos de praticidade, se possuem um espaço destinado especificamente a eles, se estão em excesso e se cumpriram com o propósito a que se serviam, será rotineiro e tranquilizador.
O processo, para os que não são tão afeitos à organização, pode parecer árduo, maçante, chato. Para nós (veja que já te inclui aqui), e a legião de seguidores da Marie Kondo, é um processo magnífico.
É um deleite poder ter esse tempo com as suas coisas, com os objetos que edificam um lar. Notar que cada coisa está ali por uma razão, que há história e que há vida pode ser transformador. Engana-se quem entende tudo isso por um viés materialista. Aqui, falo de algo bastante além: do respeito com aquilo que possuímos e que nos cerca diariamente.
Com o passar do tempo a maturidade me ensinou que a simplicidade de determinados itens ganha uma nova roupagem de significados cada vez mais complexos. A curadoria que é preciso fazer para atingir a organização que desejo é sofisticada, é preciso analisar e rever itens que as vezes ocupam grande espaço emocionalmente. Outras vezes, será simples, não carregam bagagem alguma ou, então, há confiança de que cumpriram seu papel e está na hora da despedida.
Passados anos da “conversão” comecei a entender a importância da estética e qualidade dos itens de uma maneira mais profunda. Não me importo tanto com uma mesa posta, mas me importo consideravelmente com a toalha da minha mesa da cozinha. Quero que essa toalha seja bonita e boa pois ela carrega a grande responsabilidade de juntar minha família durante as refeições do dia a dia.
O mesmo acontece com aquela xícara de café simples, mas que abraça o momento prazeroso que tenho de alguns minutos de silêncio e contemplação. E o lençol das camas das crianças, que servem ao nobre propósito de aconchegá-los durante as horas de sono e proteger seus braços e pernas pequenininhos.
Revisitarei (ou, revisitaremos) não somente objetos, mas as memórias que vem junto aos presentes de casamento e nascimento dos filhos. E farei (ou, faremos), mais uma vez, a etapa mais difícil do livro: itens de valor sentimental. Organizar com carinho e saudosismo a primeira toalha usada para enrolar os filhos após o banho e as primeiras meias que esquentaram seus pés é simplesmente único.
A organização que aprendi extrapolou as páginas do livro e, assim como amplamente difundido, a organização de uma casa reflete a organização da mente. Me pego pensando o que significa essa minha vontade de reorganizar tudo novamente e nos mínimos detalhes. Seria o inconsciente me falando algo?
Enquanto escrevo esse texto, percebo que não escrevi uma resenha de um livro (que era a ideia original quando me sentei aqui a escrever) e, concluo que enquanto a organização da casa reflete a organização da mente, a minha escrita vai mais além e organiza essa parte minha mais profunda e interna, mais complexa.
Se você não leu esse livro, fica aqui a indicação. Mas cuidado, pode ser que ele organize para além da sua casa.
Li, Vi e Ouvi
Falando em livros, recentemente li Difamação. E que livro!
Se você está a procura de um page turner com história original, certamente irá gostar desse.
Já ouviu aquela expressão que fala que quem conta a história primeiro é o dono da narrativa? Pois bem, lembre-se disso ao ler.
Ps: A Apple TV+ lançou a série Disclaimer, que é a história desse livro. Comecei e estou gostando.
Até a próxima!
Realmente, nossos textos estão, de alguma forma, conectados. E eu quasei citei a Kondo, mas acho que você fez isso de forma muito melhor!
Incrível! Li esse livro por indicação sua e o contexto que vc me indicou ele foi: roupa de ficar em casa! Lembra?
Eu adorei a leitura, mas confesso que preciso aplica-la! Ainda guardo as meias enroladas dentro da outra! 🫢
Estou separando um dia de dezembro para arrumar meu apto! Vou considerar os ensinamentos!