Entrada #11: Um ou dois finais de semana em São Paulo
A viagem que foi e a que poderia ter sido: uma experiência nova da maternidade.

A que foi
Saímos com calma, final da tarde da sexta-feira. Mala leve, poucos itens. Na estrada, a música de adulto tocava ao fundo em meio a conversas variadas e, todas, com começo, meio e fim. Alguns momentos de silêncio e de ininterrupções.
Para o jantar, escolhemos um restaurante intimista. Enquanto aguardamos nossa mesa, tomamos drinks na mesinha da calçada e observamos os transeuntes. No jantar, mesa para dois. Tudo corre bem, moluscos para mim, plat du jour para ele, vinho para os dois.
Não há pressa para dormir, não há pressa para acordar. E o dia acontece conforme vamos querendo. Um casamento, uma parada numa recém-inaugurada livraria, um café.
Na sequência, uma sessão de cinema Woody Allen e pipocas depois, o jantar quase se repete: dessa vez, nosso restaurante favorito da capital. E, depois de 2 ou 3 drinks, um prato para dois, e uma esplendida sobremesa: o sono avassalador.
O sol nasce e há tempo de sobra, mas saudade demais.
A que poderia ter sido
Muitas malas, brinquedos, lanchinhos. Peguei os remédios, caso precise? E se fizer mais frio ou muito calor, haverá roupas adequadas? Tem fraldas e fórmula suficientes?
Pega-se qualquer coisa para nós, alguma coisa ficou para trás, certamente que nada das crianças.
“Vamos passar no túnel, papai?”. Toca Bita, Garbage Truck, Bate o Sino Pequenino. “Murilo, você está falando comigo? Repete, por favor, que não entendi”. “Estamos na estrada? Tem que fechar o vidro?”. Vidros são fechados, o carro faz o movimento de carro e uns minutos se passam e há silêncio. Muito silêncio para que ninguém desperte antes que a soneca se complete em sua duração sagrada.
Há parada em postos, malabarismos no banheiro público, snacks novos e água de coco.
No hotel, são vários minutos contemplando o conjunto de três elevadores panorâmicos que estão dispostos lado a lado e que parecem dançar no hall aberto ao subirem e descerem por mais de 20 andares. É admirável e muito curioso.
O jantar é no hotel, ambiente controlado, próximo das facilidades que são importantes depois de um longo dia. Por vezes, o prático supera o que desejado.
E tudo é farra, tudo é curiosidade, são muitas perguntas, muito a explorar. O banho tem risadas, tem choro, tem bagunça, tem vida. O sono tem movimento e a manhã tem agito.
No buffet do café da manhã, o pão de queijo e ovos, que são sempre protagonistas, dividem espaço com o mini croissant de chocolate. E os demais hóspedes recebem visitas em suas mesas com calorosos bons dias de dois baixinhos que acenam e dão lindos sorrisos.
O dia corre conforme o planejado. O restaurante é pensando e pesquisado com antecedência e um intervalo é computado no passeio para garantir aquela soneca tão necessária.
O túnel, antes um qualquer, ganha todo um contexto mais atraente já que leva o nome do Ayrton Senna. O que antes seria uma passagem com gritos e braços levantados, agora é acrescido a recordações da história de um dos livrinhos favoritos, e o assunto rapidamente fica em carros de corrida e “vamos comprar carrinho novo?”
Os aviões são temas de conversas, cada escavadeira um motivo de alerta. Quantas construções! O carro tem tanta música, tanta risadinha, e tanta conversa, algumas que somente os passageiros do banco de trás entendem. Falam a língua deles.
O passeio é kids friendly, é programado, é esperado. Há expectativa, há empolgação. É caos, é sucesso e é gostoso.
Fim do dia e o “é noite?” nos levam ao cardápio do jantar: comida italiana para 4 para garantir a famosa “massinha” de sucesso para 2.
Agito dispersando, luzes mais fracas, rotina de banho mais leite mais cama.
O sol nasce e há pouco tempo, eles crescem rápido.
A que foi e a que poderia ter sido são ambas viagens excelentes, cada qual com seus prazeres e desprazeres. Mas, para cada fase da vida, uma viagem ideal. Hoje, fico com a que poderia ter sido.
Li, Vi e Ouvi
Como menciono no próprio texto, assisti ao filme do Woody Allen, o Golpe de Sorte. Como super fã dos filmes dele, sem dúvida recomendo. Uma trama excelente, com um final genial.
O Golpe de Sorte também ficou para o casal sentado nas poltronas ao nosso lado, que se beneficiaram dos ingressos cortesisas que ganhamos como remediação da pipoca ruim que compramos. Antes que pensem que a sorte ficou apenas nos vizinhos, também ganhamos pipocas novas!
Excelente texto. Coloca os leitores nas cenas. Traz em pílulas sentimentos que nos dominam. Leve, divertido e realista. Difícil colocar tudo isso num só envelope. Parabéns!