Caro Leitor,
Me recordo da primeira vez que ouvi falar do livro O Diário de Bridget Jones. Fomos passar um final de semana numa casa de campo de amigos dos meus pais. Foi um final de semana marcante, talvez minha descoberta pelo prazer que o escape para o campo proporciona para aqueles que moram em cidades grandes.
A casa, toda rústica, mas repleta de conforto, estava não somente em meio às plantas, mas também possuía um lago particular. Era possível fazer pequenas trilhas na propriedade, respirar aquele ar fresco e olhar estrelas a noite, um luxo.
Mas luxo mesmo era o tempo.
O tempo, embora curto de calendário, era extenso na qualidade. Afora as conversas, as belas companhias, e o tédio, foi a primeira vez que provei pizza de alface e aprendi como se acende uma lareira cheirosa.
Entre uma pizza e outra, encontrei a estante da casa com alguns livros. Não me recordo os títulos, mas me recordo do exemplar da Bridget Jones entre eles. Retirei o livro da estante, um tanto tímida e reticente com minha audácia “podia eu mexer assim nos livros dos outros?” e comecei a ler.
O mundo da vida adulta feminina se abriu para mim, fiquei entusiasmada, aqueles assuntos e aquelas experiências eram ainda distantes para a minha realidade de pré adolescente. Conforme eu ia lendo o livro, mais me interessava e mais me escapava para aquele humor cínico, divertido.
Pegava o livro a cada oportunidade que se apresentava, não tive tempo para terminá-lo e o livro voltou para seu lugar na estante. Anos depois, já havia acumulado horas e horas do romance com o Mark Darcy, mas ainda sem terminar aquele livro que comecei tantos anos antes.
E tantos anos depois, perambulando no sebo perto da minha casa, me aventurei naquelas compras de livros “secretos” onde você compra um livro embrulhado e sabe apenas uma breve descrição informada pela livraria. Para minha surpresa, uma bastante animada, quando abri, lá estava: O Diário de Bridget Jones. Ri, li e me diverti.
O mesmo sebo me recebeu dois anos depois. Era uma visita despretensiosa, marcada pelo objetivo de estar ali, num meio repleto de livros e me deixar levar pelas estantes, todas abarrotadas. Já contei sobre meu gosto pela busca aleatório de bons livros aqui .
“Lembra de ontem à noite quando eu disse que te amava? Não foi de verdade. Estava sendo irônica.”
Ali estava, numa estante, socado, um exemplar de Melancia. Uma edição de bolso, já um pouco amassado, lateral suja, usado. Pronto para morar em outra estante.
O que você não sabe, Leitor, é que apenas uma semana antes, esse livro entrara fixamente em minha cabeça. Uma reportagem falava que a história das irmãs Walsh viraram uma série pela BBC enquanto uma amiga dizia “leia esse livro, se você gostou de Bridget Jones, vai adorar esse”.
Aparentemente, Melancia é primo de Bridget e ambos habitam a mesma comunidade de livros divertidos, com humor sagaz, que retratam as vidas de mulheres reais e de problemas reais, mas sempre com aquela pitada engraçada de rir da própria bagunça que a vida pode ser.
O universo me presenteou com uma melancia deliciosa e que ainda não terminei, mas que já queria contar a respeito para você, meu Leitor. É um livro que entra naquele dilema que nos deixa tão confusos: quero ficar lendo, mas não quero terminar, mas o que será que acontece. E, em meio a tudo isso, lemos com um sorrisinho no rosto porque a vida pode ser muito engraçada, basta alguém para escrevê-la assim.
Que delícia de texto, parabéns. Fiquei com vontade de ler os dois livros, pois ainda não li.