Os assuntos se entrelaçam de maneira fascinante. É impressionante como, de forma quase inevitável, nos cercamos de temas que nos atraem. Quando me dou conta, acabo criando uma rede de referências que, ao ser analisada, revela conexões profundas entre os temas que me atraem essencialmente.
Será que todos nós funcionamos assim? Acredito que sim. Basta um esforço para percebermos o que nos leva a gostar de certos assuntos.
Assisti à minissérie Adolescência sem saber que estava em alta, nas manchetes, e popular entre as pessoas. Estava completamente alheia a essa febre. Tudo o que sabia era a sinopse breve que meu marido me passou: um adolescente acusado de matar um colega de escola com uma faca.
Senti um desconforto imediato. A série trouxe à tona tantos elementos que chamaram minha atenção: uma investigação, um crime, o interior do Reino Unido, a possibilidade de um suspense psicológico, e, claro, a própria adolescência.
O que a minissérie me entregou foi mais do que eu imaginava. Me vi completamente envolvida e instigada pela complexidade do problema e pela situação que envolvia os personagens, especialmente os pais e a irmã do adolescente acusado.
O roteiro vai além das questões típicas de investigação, julgamento e processos legais relacionados a um assassinato. Ele mergulha na complexidade das relações interpessoais entre os personagens, explorando os sentimentos, as impressões e as percepções de cada um. E é justamente nesse aspecto que encontrei meu maior ponto de atração.
Acompanhamos a evolução dos sentimentos e das reações dos pais do acusado, que vão da negação, ao choque, à dúvida, à tristeza, à decepção e até à complacência. A irmã se divide entre ser uma vítima da situação e ser uma adolescente que busca uma vida mais próxima à normalidade, mas que também é compreensiva com o que está acontecendo. O casamento dos pais tenta se manter forte, enquanto a família inteira passa por um profundo processo de luta e luto.
A escolha de focar no suspeito é intencional. Somos levados a refletir sobre como foi possível que o crime ocorresse. Aqui, aspectos práticos e objetivos perdem força. A questão não é sobre como uma faca foi adquirida, mas sobre o emocional, o subjetivo, os relacionamentos e os diálogos íntimos.
Como ninguém percebeu os sinais? O que levou um adolescente de 13 anos a tomar uma atitude tão extrema? A série nos força a buscar no passado uma resposta para a pergunta: poderia o crime ter sido evitado?
Seria possível evitar? Talvez cada um tenha sua própria resposta. Ou não. Na minha visão, a série não busca nos dar respostas prontas, mas nos desafia com um leque de dúvidas, nos colocando no papel de membros da sociedade, de pais, de educadores, para refletirmos se estamos direcionando nossas energias e ações aos lugares certos.
Uma crítica recorrente, após uma breve pesquisa, refere-se ao uso das redes sociais e à presença constante dos jovens no ambiente virtual. Concordo com essa crítica, mas acredito que seja apenas um dos fatores entre muitos outros. Quando estamos com os outros, estamos realmente presentes? Estamos investindo tempo na construção de vínculos afetivos genuínos? Estamos, de fato, interessados nas pessoas, ou nossa curiosidade é apenas superficial?
Adolescência é uma história crua e intensa. Comecei a assisti-la pelos motivos que mencionei no início, ou seja, pelo suspense, pelo crime e pela temática da adolescência, mas terminei refletindo sobre outros temas que também me interessam: o uso das telas e das redes sociais, e a maternidade.
É uma narrativa envolvente e profunda e necessária para nós todos.
Já assistiu?
Vi o trailer e fiquei bem assustada com as poucas cenas que vi, de me arrepiar e me angustiar! Lendo sua percepção vou me encorajar a assisti-la!
Gostei da dica!